O discurso dos idosos com demência foge à realidade?
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O discurso de idosos com demência foge à realidade?
Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem ao lidar com essa condição neurológica que, sem dúvida, afeta a memória, o raciocínio e a comunicação.
A resposta, no entanto, não é simples nem definitiva. Portanto, neste post, vamos explorar alguns aspectos do discurso de idosos com demência e como ele se relaciona com a realidade.
O que é demência?
A demência é um termo genérico que engloba diversas doenças que causam declínio cognitivo progressivo e, consequentemente, interferem na capacidade de realizar as atividades diárias.
Entre as várias formas de demência, a mais comum é a doença de Alzheimer, que representa cerca de 60% a 80% dos casos. Além disso, outras formas de demência incluem a demência vascular, a demência frontotemporal, a demência de corpos de Lewy e a demência mista.
É importante ressaltar que a demência afeta principalmente pessoas idosas, mas, longe de ser uma consequência natural do envelhecimento, estima-se que cerca de 10% das pessoas com mais de 65 anos tenham algum grau de demência. Esse número, por sua vez, aumenta consideravelmente com a idade.
Embora a demência seja uma condição irreversível e incurável, existem tratamentos que podem aliviar os sintomas e, assim, retardar a progressão da doença.
Como a demência afeta o discurso?
O discurso, que é a capacidade de produzir e compreender linguagem oral, depende de vários processos cognitivos, como a memória, a atenção, o planejamento, a organização e a execução.
A demência pode afetar qualquer um desses processos, causando, por conseguinte, alterações no discurso dos idosos. Algumas das alterações mais comuns incluem:
Perda de vocabulário:
Os idosos com demência podem ter dificuldade para lembrar ou encontrar as palavras certas para se expressar. Frequentemente, podem usar palavras genéricas, como “coisa” ou “aquilo”, ou substituir palavras por outras semelhantes em som ou significado, como “cadeira” por “cadeia”.
Perda de fluência:
Ademais, os idosos com demência podem ter pausas frequentes ou prolongadas no discurso, além de repetir palavras ou frases, ou ainda mudar de assunto sem conexão lógica. Eles podem encontrar dificuldades para iniciar ou manter uma conversa, ou para seguir o fluxo da comunicação.
Perda de coerência:
Alem disso, os idosos com demência podem ter dificuldade para organizar as ideias e construir frases gramaticalmente corretas. Muitas vezes, cometem erros de concordância, regência, pontuação ou ortografia, e podem ter dificuldades para compreender regras sociais ou pragmáticas da linguagem, como o uso de ironia, humor ou sarcasmo.
Perda de relevância:
Finalmente, os idosos com demência podem ter dificuldade para adaptar o discurso ao contexto ou ao interlocutor. Como resultado, podem falar sobre assuntos irrelevantes ou inapropriados para a situação, ou ignorar as perguntas ou comentários dos outros. Além disso, eles podem ter dificuldade para distinguir entre realidade e fantasia, presente e passado, fato e opinião.
O discurso foge à realidade?
A questão de saber se o discurso dos idosos com demência foge à realidade depende, em grande parte, da perspetive que se adota. Do ponto de vista objetivo, pode-se dizer que sim, pois o discurso pode conter informações falsas, contraditórias ou ilógicas. Por exemplo, um idoso com demência pode afirmar que seu pai está vivo, quando na verdade ele faleceu há anos; ou que ele é um astronauta, quando, de fato, ele nunca saiu da Terra.
No entanto, do ponto de vista subjetivo, pode-se afirmar que não, pois o discurso reflete a experiência interna do idoso com demência. O que ele diz pode não corresponder à realidade externa, mas sim à sua realidade interna, que é moldada por suas emoções, sentimentos, lembranças e imaginação. Por exemplo, um idoso com demência pode falar sobre seu pai como se ele estivesse vivo porque ele sente saudade dele; ou que ele é um astronauta porque sonha em viajar pelo espaço.
Como lidar com o discurso dos idosos com demência?
O discurso dos idosos com demência pode ser desafiador para os familiares, cuidadores e profissionais que lidam com eles. Portanto, é fundamental ter em mente que as alterações no discurso não são intencionais nem voluntárias, mas sim decorrentes de uma doença que afeta o cérebro. Por essa razão, é preciso ter paciência, compreensão e respeito pelo idoso com demência, evitando corrigir, criticar ou contradizer o seu discurso.
Algumas dicas para facilitar a comunicação com os idosos com demência incluem:
Falar de forma simples, clara e direta, utilizando frases curtas e palavras familiares.
Fazer perguntas fechadas, que possam ser respondidas com “sim” ou “não”, ou com opções limitadas.
Usar gestos, expressões faciais e objetos para ilustrar o que se quer dizer.
Manter o contato visual e o tom de voz adequado, demonstrando interesse e atenção.
Validar os sentimentos e as emoções do idoso com demência, mesmo que o seu discurso não faça sentido.
Entrar no seu mundo, sem julgar ou confrontar a sua realidade interna.
Estimular as lembranças positivas e as habilidades preservadas do idoso com demência, utilizando fotos, músicas, histórias ou jogos.
Por fim, buscar ajuda profissional de um fonoaudiólogo, que pode avaliar e tratar as alterações no discurso dos idosos com demência.
Conclusão:
Em resumo, o discurso dos idosos com demência pode, sim, fugir à realidade objetiva, mas não à realidade subjetiva. O discurso é uma forma de expressão da personalidade, da história e da identidade do idoso com demência, que merece ser respeitada e valorizada. A comunicação com os idosos com demência pode ser facilitada por meio de estratégias simples e eficazes, que, por sua vez, promovem a qualidade de vida e o bem-estar de todos os envolvidos.